Repressão do governo mexicano já prendeu e torturou mais de 200 pessoas; o objetivo é deixar o povo com medo
Pedro Carrano,
enviado especial a Oaxaca (México)
Atualmente, a repressão é o único dado palpável para entender os caminhos da luta em Oaxaca. A violência aplicada pelo Estado mexicano chegou ao auge, no dia 25 de novembro, com a detenção ilegal e a tortura de mais de 200 oaxaquenhos. A maioria deles está incomunicável no cárcere.
Desde aquele dia, o presidente Felipe Calderón e o governador do Estado Ulises Ruiz Ortiz (URO) - que, há pouco, voltou a ocupar as secretarias do governo na capital - concentram-se na perseguição dos rostos mais visíveis da Assembléia Popular dos Povos de Oaxaca (APPO), lançando mão do Judiciário como instrumento de perseguição política.
Ao mesmo tempo, a recente libertação de 44 presos, realizada no dia 16 pelo governo de Oaxaca, soa como um gesto para relativizar, aos olhos da opinião pública, a repressão que acontece no Estado. Isso porque, no dia 18, o porta-voz e outros dois integrantes da APPO foram capturados e torturados.
Aparentamente ilógica, a tática do governo por um lado remete à clandestinidade o tecido de organizações que formam a APPO. Porém, a maior eficácia da política de torturas e perseguição reside no medo provocado nos professores e na população comum, que foram a principal força do movimento e agora procuram não sair de casa.
Ao longo dos seis meses de luta, as pessoas tomaram a APPO para si e protagonizaram - de modo autônomo - as melhores ações do movimento: a construção das mais de 3 mil barricadas nas colônias periféricas, a tomada de radiodifusoras e a presença popular massiva nas megamarchas.
Futuro
Em meio à política de "mano dura" ou "guerra suja", como tem sido chamada, não há comunicados do conselho estatal da APPO sobre as futuras ações. O termômetro para avaliar o movimento sem dúvida é a população e a convocatória para as megamarchas é das poucas ferramentas frente ao terror com que conta da sociedade organizada.
O embate jurídico é a outra forma de mobilização levada a cabo no momento. A demanda principal ainda é a queda de URO para desencadear uma reforma no Estado, porém agora os esforços de todos se estendem à luta pela libertação dos presos políticos de consciência.
Os familiares dos presos são dos poucos rostos do movimento que se expõem, conscientes do risco que correm. Dois comitês, apoiados por advogados, foram criados. O primeiro envolve artistas, intelectuais e membros da sociedade civil e se chama Comitê 25 de novembro, em referência ao dia da brutalidade do Estado. Junto a ele, o Comitê de Desaparecidos e Presos Políticos de Oaxaca (Cofadapo) foi criado pela família dos presos políticos de consciência, encabeçado pelas mulheres apartadas de algum parente ou filho nos quase sete meses de conflito.
Em intervenção feita no ato realizado no dia 17, apenas um dia antes de ser detido e torturado, o porta-voz da APPO, Florentino López Martínez, havia reforçado que o movimento segue vivo e deve retomar as ações, legítimas e pacíficas. "Vamos recuperar rua por rua, artigo por artigo da constituição", exclamou.
* Fonte: Jornal Brasil de Fato; Disponível em: http://www.brasildefato.com.br:8080/v01/agencia/especiais/especial.2006
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