segunda-feira, novembro 20, 2006

Nesta nova representação não há hierarquias

"Nesta nova representação não há hierarquias"

Hernan Ouviña
Rebelión
17-11-06

Sob a consigna "todo o poder ao povo!", e com a assistência de mais de mil delegados de colônias, comunidades, sindicatos, barricadas, centros de trabalho e de estudo, ejidos e organizações de base, se levou a cabo no Auditório do Hotel do Sindicato de Professores o Congresso Constitutivo da Assembléia Popular dos Povos de Oaxaca (APPO). De 10 a 12 de novembro, representantes das sete regiões que compõem o estado (Valles Centrales, Costa, Cañada, Sierra, Istmo, Tuxtepec e Mixteca) debateram em torno de três eixos de trabalho coletivo: análise do contexto internacional, nacional e estatal; crise das instituições e a Assembléia Popular dos Povos.


Com algumas críticas a respeito da escassa representação tida por jovens e ativistas das barricadas, e tendo como antecedente a 1ª Assembléia Estatal dos Povos de Oaxaca (celebrada nos dias 27, 28 e 29 de setembro deste ano), o Congresso teve como um de seus objetivos prioritários elaborar uma declaração de princípios e dotar a APPO de estatutos e de uma direção permanente. Marcos Leiva, integrante da coordenação coletiva provisória da Assembléia, expressou na inauguração das mesas de debate: "Hoje o povo oaxaquenho nos tem demonstrado que só pode lutar com pensamento, com propostas e com um ideário político. E este congresso é a melhor mostra disso: hoje o povo de Oaxaca demonstra sua capacidade não só na resistência, mas também na criação de um mundo diferente”.

O primeiro dia do congresso, além de escutar atentamente as emotivas saudações e mensagens dadas pelas organizações fraternas, os assistentes receberam da comissão provisória da APPO um auto-crítico Informe Político sobre a atuação até o momento. Já pela noite, se destacou a presença de 250 indígenas chiapanecos pertencentes à Associação Civil “Las Abejas” (da comunidade em resistência de Acteal – Chiapas), que subiram em caravana para a cidade de Oaxaca para solidarizar-se com a causa do povo oaxaquenho, exigindo paz “justa e digna”.

Durante o segundo dia se levaram a cabo prolongadas discussões no marco das três mesas de debate mencionadas, enquanto que no transcurso da terceira jornada se gerou um caloroso debate em torno de certos pontos controvertidos, que deram conta da heterogênea composição da APPO: frente a tentativa de alguns coordenadores de apresentar como resumo da mesa 2 uma relatoría que considerava “importante que a APPO negocie e vá ocupando espaços de decisão e de poder nas instituições vigentes”, afirmando inconcluso que ocupar espaços no Governo estatal e negociar com o Governo Federal não implicava "uma oposição à busca de transformações profundas”, o grosso dos delegados terminou vaiando e repudiando a proposta, o que obrigou – após um confuso recesso - a modificar substancialmente o documento final, omitindo a negociação por postos governamentais e sublinhando o caráter irrenunciável da saída de Ulises Ortiz.

Após consensuar o resumo geral das três mesas de trabalho, que serviu de base para o documento final do Congresso, se passou a discutir pormenores da forma de eleição e composição do Conselho Estatal dos Povos de Oaxaca, elegendo por regiões e setores os integrantes desta nova instância de decisão coletiva, sob o compromisso de “mandar obedecendo”, e sujeitos à revogabilidade no cargo quando não cumprirem com as tarefas encomendadas. Novas polêmicas surgiram durante as conclusões, em particular ao redor de se deveriam ou não aceitar a militância partidária dentro da APPO. Para além de certos pontos discordantes, houve um acordo unânime em retomar a experiência ancestral dos povos indígenas, baseada em assembléias comunitárias.

Já de madrugada, o Congresso resolveu continuar a resistência através de um Plano de Ação a curto, médio e longo prazo, que contempla – entras outras formas de pressão – o levantamento de barricadas e a tomada de palácios municipais. O início do plano se produziu esta segunda-feira mesmo, com uma massiva mobilização desde a Procuradoria da Justiça até a Praça de Santo Domingo, onde integrantes da APPO realizam há semanas um "plantão" (acampamento). Ao culminar a marcha, Zenón Bravo Castellanos, membro do novo Conselho Estatal, manifestou que "o Conselho Estatal da APPO estará composto por 260 companheiros e companheiras que representam todas e cada uma das regiões. Estamos considerando um esquema de representação tanto territorial como setorial. Nele estão representados pequenos comerciantes, integrantes do setor estudantil, trabalhadores do transporte, mulheres, entidades não-governamentais, comunidades indígenas, sindicatos, assim como organizações sociais e políticas”. Zenón esclareceu que "nesta nova representação não há hierarquias: todos temos as mesmas obrigações e direitos, e em todo caso, para garantir um melhor cumprimento das tarefas que são necessárias ao movimento, se criaram comissões internas para cumprir com os objetivos da direção coletiva".

Cabe destacar que, de maneira complementar ao Congresso, durante os dias 11 e 12 de novembro centenas de estudantes da Universidade Autônoma Benito Juárez de Oaxaca realizaram o Segundo Encontro Nacional Juvenil. Distribuídos em oficinas, jovens de diferentes estados mexicanos debateram sobre sua situação tanto nas instituições educativas como em outros âmbitos de suas vidas, gerando um documento e um plano de luta que -segundo manifestaram- levarão a cabo nas próximas semanas.

Tradução: Magão

Fonte: www.rebelion.org

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