Síntese dos acontecimentos de Oaxaca
Síntese dos acontecimentos de Oaxaca
x Clajadep - [ 08.11.06 - 05:36 ]
Oaxaca, México
Luis Hernández Navarro
La Jornada, 7 de novembro
Durante meses, o conflito em Oaxaca foi refém da situação política nacional. Mas agora, em um giro de 180 graus, a conjuntura imediata do país está atravessada pela sublevação oaxaquenha. O problema de “uma só rua”, como batizou Ulises Ruiz, já define muitas das grandes decisões políticas nacionais.
As eleições federais de julho de 2006 colocaram os protestos magisteriais no estado e as mobilizações da nascente Assembléia Popular dos Povos de Oaxaca (APPO) em segundo plano. Roberto Madrazo assegurou que tinham "aroma de mulher", insinuando que detrás delas se encontrava Elba Esther Gordillo. Não foram poucos os simpatizantes de Andrés Manuel López Obrador [PRD] que viram na sublevação uma manobra para prejudicar a imagem de seu candidato.
O conflito pós-eleitoral deu vida artificial a Ulises Ruiz. As grandes mobilizações contra a fraude eleitoral obscureceram o levantamento oaxaquenho. Carregando nas costas um grande déficit de legitimidade, Felipe Calderón necessita do apoio do Partido Revolucionário Institucional (PRI) para chegar à Presidência da República e para manter-se nela com os menores sobressaltos possíveis. O tricolor [refere-se aqui às cores do PRI. N.T] pôs preço a esta aliança: a sustentação de seu cargo no governo de Oaxaca.No entanto, agora a situação mudou. Oaxaca está no centro da agenda política nacional. A ponto de terminar seu mandato, Vicente Fox confessou que herdará o conflito para seu sucessor. O próximo dia 20 de novembro, data na qual López Obrador tomará posse como presidente legítimo, diferentes forças anunciaram a realização de uma paralisação nacional em apoio à APPO. Os insubmissos oaxaquenhos deram um cheque ao rei ao declarar que, se Ulises Ruiz não for embora, pensam em dirigir-se à Cidade do México para impedir que Felipe Calderón se converta em presidente da República.
Uma e outra vez, o gabinete de transição do Partido Ação Nacional (PAN) declara à imprensa que segue atento ao conflito, mas que é alheio ao manejo que o governo federal está lhe dando. A mentira não confunde ninguém. Dentro do movimento se sabe com absoluta certeza que o envio da Polícia Federal Preventiva (PFP) a Oaxaca foi uma exigência do presidente eleito a Vicente Fox. Josefina Vázquez, habilitada como operadora para "desativar o conflito", deixou pelo caminho muitas pistas de seu infrutífero trabalho. Temeroso de ter que lhe dar com um problema que nem entende e nem pode resolver com a política da “mão dura” que ofereceu aos círculos empresariais, Calderón pressionou com tudo para que fosse este governo e não o seu que pague o custo da repressão no estado. Mas tudo foi inútil. As coisas são mais complicadas do que eram antes da batalha de Oaxaca.
A imprensa de todo o mundo informa sobre o acontecido em Oaxaca. Os governos dos Estados Unidos, Canadá e de países da Europa pediram a seus cidadãos que não viajem para Oaxaca. Reconhecidos intelectuais do mundo inteiro exigiram do governo mexicano a saída da PFP do estado e a renúncia de Ulises Ruiz. Dezenas de consulados mexicanos no exterior se converteram no centro de enfurecidos protestos contra o governo de Vincent Fox. Impávida, a diplomacia mexicana faz água, enquanto seu capitão abandona o barco antes do tempo e seu porta-voz declara que os custos a pagar já “estavam contemplados”.
As imagens das sete horas de enfrentamento entre os robocops made in Mexico e os estudantes e colonos oaxaquenhos que defenderam a universidade no último Dia dos Mortos deram a volta ao planeta. A polícia mexicana foi derrotada por um levantamento popular e os meios de comunicação foram testemunhas. A Comuna de Oaxaca levantou uma enorme onde de admiração, simpatia e solidariedade em milhares de jovens. Muitos se prestam a viajar o território mexicano para servir de escudos humanos ante a barbárie.
O desavença hoje é maior agora do que quando os guardas federais ocuparam Oaxaca. Alimentada por uma complexa vida comunitária e por uma sabedoria política de dezenas de anos de luta, a resistência oaxaquenha tem demonstrado hoje ser muito mais hábil que os governos federal e estatal. Seus dirigentes marcham sempre dois ou três passos a frente dos políticos profissionais.
Apenas uma semana depois da entrada da PFP no estado, centenas de milhares de oaxaquenhos tomaram a capital do estado para exigir sua saída. A tentativa de apresentar a ação policial como uma iniciativa “imparcial” para restaurar a ordem fracassou. A mobilização tornou evidente que os guardas federais estão ali para sustentar Ulises Ruiz.
A inteligência tática da APPO é surpreendente. Quando o governo federal se prepara para que o movimento popular responda com a violência, este se defende pacificamente. Quando o poder se acredita militarmente vitorioso e empreende o que supõe a "última batalha" na universidade, a sublevação resiste com paus, pedras e molotovs e lhe gratifica com uma esmagadora derrota. Quando Bucareli anuncia o regresso às aulas, os professores ficam fora das salas. Quando o governo federal acredita que pode obrigar o movimento a sentar e negociar sua rendição, este lhe tira do trilho. Quando Abascal quer levar os dirigentes para dialogar na Cidade do México no escurinho, estes abrem uma mesa de negociação com a sociedade de Oaxaca.
A última manobra do movimento popular tem sido converter seu protesto em assunto central da agenda política nacional. As grandes definições dos próximos meses estarão marcadas pelo conflito. O governo federal se meteu num pântano do qual não poderá sair. Oaxaca é hoje, mais que nunca, México.
Tradução: Magão
x Clajadep - [ 08.11.06 - 05:36 ]
Oaxaca, México
Luis Hernández Navarro
La Jornada, 7 de novembro
Durante meses, o conflito em Oaxaca foi refém da situação política nacional. Mas agora, em um giro de 180 graus, a conjuntura imediata do país está atravessada pela sublevação oaxaquenha. O problema de “uma só rua”, como batizou Ulises Ruiz, já define muitas das grandes decisões políticas nacionais.
As eleições federais de julho de 2006 colocaram os protestos magisteriais no estado e as mobilizações da nascente Assembléia Popular dos Povos de Oaxaca (APPO) em segundo plano. Roberto Madrazo assegurou que tinham "aroma de mulher", insinuando que detrás delas se encontrava Elba Esther Gordillo. Não foram poucos os simpatizantes de Andrés Manuel López Obrador [PRD] que viram na sublevação uma manobra para prejudicar a imagem de seu candidato.
O conflito pós-eleitoral deu vida artificial a Ulises Ruiz. As grandes mobilizações contra a fraude eleitoral obscureceram o levantamento oaxaquenho. Carregando nas costas um grande déficit de legitimidade, Felipe Calderón necessita do apoio do Partido Revolucionário Institucional (PRI) para chegar à Presidência da República e para manter-se nela com os menores sobressaltos possíveis. O tricolor [refere-se aqui às cores do PRI. N.T] pôs preço a esta aliança: a sustentação de seu cargo no governo de Oaxaca.No entanto, agora a situação mudou. Oaxaca está no centro da agenda política nacional. A ponto de terminar seu mandato, Vicente Fox confessou que herdará o conflito para seu sucessor. O próximo dia 20 de novembro, data na qual López Obrador tomará posse como presidente legítimo, diferentes forças anunciaram a realização de uma paralisação nacional em apoio à APPO. Os insubmissos oaxaquenhos deram um cheque ao rei ao declarar que, se Ulises Ruiz não for embora, pensam em dirigir-se à Cidade do México para impedir que Felipe Calderón se converta em presidente da República.
Uma e outra vez, o gabinete de transição do Partido Ação Nacional (PAN) declara à imprensa que segue atento ao conflito, mas que é alheio ao manejo que o governo federal está lhe dando. A mentira não confunde ninguém. Dentro do movimento se sabe com absoluta certeza que o envio da Polícia Federal Preventiva (PFP) a Oaxaca foi uma exigência do presidente eleito a Vicente Fox. Josefina Vázquez, habilitada como operadora para "desativar o conflito", deixou pelo caminho muitas pistas de seu infrutífero trabalho. Temeroso de ter que lhe dar com um problema que nem entende e nem pode resolver com a política da “mão dura” que ofereceu aos círculos empresariais, Calderón pressionou com tudo para que fosse este governo e não o seu que pague o custo da repressão no estado. Mas tudo foi inútil. As coisas são mais complicadas do que eram antes da batalha de Oaxaca.
A imprensa de todo o mundo informa sobre o acontecido em Oaxaca. Os governos dos Estados Unidos, Canadá e de países da Europa pediram a seus cidadãos que não viajem para Oaxaca. Reconhecidos intelectuais do mundo inteiro exigiram do governo mexicano a saída da PFP do estado e a renúncia de Ulises Ruiz. Dezenas de consulados mexicanos no exterior se converteram no centro de enfurecidos protestos contra o governo de Vincent Fox. Impávida, a diplomacia mexicana faz água, enquanto seu capitão abandona o barco antes do tempo e seu porta-voz declara que os custos a pagar já “estavam contemplados”.
As imagens das sete horas de enfrentamento entre os robocops made in Mexico e os estudantes e colonos oaxaquenhos que defenderam a universidade no último Dia dos Mortos deram a volta ao planeta. A polícia mexicana foi derrotada por um levantamento popular e os meios de comunicação foram testemunhas. A Comuna de Oaxaca levantou uma enorme onde de admiração, simpatia e solidariedade em milhares de jovens. Muitos se prestam a viajar o território mexicano para servir de escudos humanos ante a barbárie.
O desavença hoje é maior agora do que quando os guardas federais ocuparam Oaxaca. Alimentada por uma complexa vida comunitária e por uma sabedoria política de dezenas de anos de luta, a resistência oaxaquenha tem demonstrado hoje ser muito mais hábil que os governos federal e estatal. Seus dirigentes marcham sempre dois ou três passos a frente dos políticos profissionais.
Apenas uma semana depois da entrada da PFP no estado, centenas de milhares de oaxaquenhos tomaram a capital do estado para exigir sua saída. A tentativa de apresentar a ação policial como uma iniciativa “imparcial” para restaurar a ordem fracassou. A mobilização tornou evidente que os guardas federais estão ali para sustentar Ulises Ruiz.
A inteligência tática da APPO é surpreendente. Quando o governo federal se prepara para que o movimento popular responda com a violência, este se defende pacificamente. Quando o poder se acredita militarmente vitorioso e empreende o que supõe a "última batalha" na universidade, a sublevação resiste com paus, pedras e molotovs e lhe gratifica com uma esmagadora derrota. Quando Bucareli anuncia o regresso às aulas, os professores ficam fora das salas. Quando o governo federal acredita que pode obrigar o movimento a sentar e negociar sua rendição, este lhe tira do trilho. Quando Abascal quer levar os dirigentes para dialogar na Cidade do México no escurinho, estes abrem uma mesa de negociação com a sociedade de Oaxaca.
A última manobra do movimento popular tem sido converter seu protesto em assunto central da agenda política nacional. As grandes definições dos próximos meses estarão marcadas pelo conflito. O governo federal se meteu num pântano do qual não poderá sair. Oaxaca é hoje, mais que nunca, México.
Tradução: Magão
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