sábado, novembro 18, 2006

O CAMINHO DESDE OAXACA - MUMIA ABU-JAMAL

O Caminho desde Oaxaca
Por Múmia Abu-Jamal
“É preciso apoiar os povos de Oaxaca, não somente com palavras, mas com esforços organizadores semelhantes em outras partes do mundo”
Faz várias semanas uma longa coluna de milhares de pessoas serpenteava pelo poeirento caminho da cidade sulista de Oaxaca para a Cidade do México - D.F., uma distância de 800 km, para apoiar a democracia e exigir a saída de seu governador, que chegou ao poder numa eleição roubada e profundamente corrupta. Os e as caminhantes, uma multidão matizada de professores, estudantes, camponeses, etc. seguiram seu caminho tortuoso sobre montanhas e vales, sob chuvas lacerantes, calor abrasador e frio penetrante, marchando por 19 dias para levar à sede do governo federal suas exigências.

O grupo chamado Assembléia Popular dos Povos de Oaxaca (APPO) sacudiu o México com sua tenaz insistência ética de que a vontade do povo seja escutada.

Durante várias semanas leio o que tem acontecido em Oaxaca. E cada vez que lia algo, pensava nos estadunidenses que docilmente aceitaram as eleições corruptas em 2000 e 2004, como cordeiros levados para o espeto. Tanto as eleições roubadas no estado da Flórida no ano de 2000 como as de Ohio em 2004 fizeram um dano inédito à mera noção de democracia e quebrantaram a fé de milhões no processo eleitoral.

O povo de Oaxaca, ao enfrentar com valentia não só os elementos naturais, mas também os políticos, até o terrorismo dos instrumentos do Estado (a violência policial e militar), comprovaram com sua marcha e seu protesto que a verdadeira democracia é de profunda importância para o povo.

Como resultado dos esforços da APPO, surge uma resistência mais ampla no D. F. e em outras partes do país, criando uma crise na nação com sua demanda incondicional pela saída do governador de Oaxaca, Ulises Ruiz, e a instauração da democracia. A crise nasce da situação na qual muitos dos partidos políticos do país estão fazendo todo o possível para calar, descarrilar, e intimidar as pessoas porque temem que seu êxito signifique duas, três, muitas Oaxacas por todo o país.

Oaxaca, agora o estado mais pobre do México e também o estado com maior população indígena, é uma inspiração para gente mais além das fronteiras do sul do México. A resistência atual oaxaquenha surgiu como resposta à repressão ordenada pelo governador Ruiz em junho contra o sindicato magisterial em greve. As e os professores repeliram os embates, e poucos dias depois mais de 300,000 pessoas participaram em uma marcha massiva em apoio a dito sindicato. Desse apoio massivo e profuso nasceu a APPO, a assembléia popular.

A crise constante no México pode impulsionar outras forças sociais a unir-se aos esforços radicalizantes da APPO, ou por outro lado, pode abrir a porta para o terror ameaçador dos instrumentos cruéis do Estado. Falando claro, o que começou como resposta à repressão pode terminar em ainda mais repressão. Mas isso não será nem poderia ser o fim. As forças que deram origem à APPO fervem justo debaixo da superfície, a ponto de surgir em outro estado donde os trabalhadores e os pobres lutem para resistir às forças vorazes do globalismo.
Quando se trata mal os pobres, quando os trabalhadores são mal pagos, as condições para a resistência já estão presentes. E ainda que a tentação para que o Estado utilize seus instrumentos brutais possa ser forte, também é muito possível que este tipo de solução leve a uma resistência mais ampla e mais profunda.

O exemplo de Oaxaca se esparge no vento e os exemplos da resistência popular e indígena do México, como a APPO e os zapatistas e várias lutas por toda a América Latina, também se espargem. É preciso apoiar os povos de Oaxaca, não somente com palavras, mas com esforços organizadores semelhantes em outras partes do mundo, começando nos Estados Unidos.
Do corredor da morte, sou Mumia Abu-Jamal
11-10-06
*A voz solidária de Mumia Abu-Jamal, um dos presos políticos mais conhecidos do mundo, voa sobre as muralhas de aço do corredor da morte do estado da Pensilvânia. Baleado, agredido e detido em 9 de dezembro de 1981, o jornalista afro-americano foi condenado pelo assassinato de um policial, na realidade assassinado por outros policiais mafiosos da Filadélfia para encobrir seus próprios crimes. Julgado em um processo racista e injusto, Mumia foi condenado à morte, condenado por ter sido integrante dos Panteras Negras, condenado por lutar contra abusos policiais, condenado por ser um jornalista livre e combativo antes da era dos meios de comunicação livres. É o único preso político nos Estados Unidos que tem a pena de morte... até agora.

Tradução: Magão

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